quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quando o(s) meu(s) namoro(s) acabam



(relações românticas) 

As bases para dar inicio a uma relação são imensas. Rosas. Cartões. Mesmo que não se goste de rosas. Mesmo que não se goste de cartões. Mãos que são dadas em silêncio - segredo. Desde novos e novas. As bases para nos entregarmos a alguém são protagonistas de quase todos os filmes. Quase todas as músicas. Pode não ser a forma mais correcta e a comunicação pode não ser perfeita - mas está lá a magia. Está na rua. Nas paredes. Nos livros. Somos atirados para a necessidade de alguém - alguéns. Não é uma construção que acontece quando já temos nós próprios bases também. É uma constante. Desde sempre - para sempre. Mas - as bases do fim? Dons fins?  

Da mesma forma que nos entregamos de forma tresloucada, também as coisas correm mal e possivelmente não é para sempre. Existe sempre uma pressão vinda de todos os lados e todos os cantos para que as relações durem. Os dias importam mais que os sorrisos. Os meses importam mais que as partilhas. Os anos são o resultado da nossa capacidade de ligação com outres. De persistênciaUau, tantos anos. O medo que sufoca relativamente ao que se vai achar quando chega ao fim. Prolongamos o inevitável. Sentimos vergonha, uma vergonha misturada com a vontade de conseguir ultrapassar tudo e fazer da relação - das relações - um acumular de horas, dias, meses e anos que não importam mais. Arrastamos. Acomodamos. Às vezes é okay deixar de ser okay. As bases do fim? Dos fins? Pintadas de forma trágica sempre que representada no que nos é oferecido. O culminar da desgraça, como se não existissem novas possibilidades. Mais partilhas. Pessoas diferentes.  

Com o tempo percebi que as horas, dias, meses e anos não são acumular de amor. Ou são. Quem o pode decidir se não quem está a vive-lo? Por vezes, o amor concentra-se num curto espaço de tempo. Somos mágicos. Mágicas. Viajamos. Rimos. Vemos os nossos filmes favoritos em conjunto. Trazemos sítios novos. Fotografias de mãos que se abraçavam. Fazemos maratonas de Harry Potter. Revemos os filmes da Disney. Vamos a um concerto que nem gostamos muito. Gastamos o nosso ordenado em musicais que só vão acontecer uma vez. Depois - depois não dá mais. Nem sempre é mau não dar mais. Não somos resultado de tempo mas do que trazemos para a vida uns des outres. Aprendi que só deve ser enquanto faz sentido e que esta pressão que sempre senti é uma construção que não quero que seja minha. Ter vergonha de assumir o fim de um relacionamento é tão estúpido quanto nos incutirem que não podemos existir enquanto pessoas individuais. Sozinhas.  

Desconstruir toda a mistura de sentimentos que me invade sempre que penso que não consigo mais - não quero mais - demorou. Hoje sei que da mesma forma que é preciso liberdade no amor, também é preciso liberdade no fim dele. Ou mesmo que não seja o fim dele mas seja o fim de outras coisas. Desde que me assumi como pessoa poliamorosa senti uma pressão três vezes maior. Eu disse que isso não ia resultar. Lá estás tu a meter-te nisso outra vez. Isso não vai chegar a lado nenhum. Aqui foi quando achei que anos poderiam provar que o meu amor se multiplica de facto. Demorei, novamente, até entender que o meu amor se multiplicou mas como qualquer relação - monogâmica, heterossexual, homossexual ou poliamorosa - somos pessoas. Nem sempre corre bem; nem sempre queremos ficar. Devemos ter a possibilidade de o decidir sem nos apontarem o dedo. Sem sermos julgades. Agora sei que as minhas relações vão ter uma possibilidade nova e mais bonita - a de não terem que sofrer uma pressão baseada no tempo que duram. Este foi um avanço muito importante para mim enquanto pessoa e seguidamente enquanto pessoa poliamorosa. Não tenho que justificar a durabilidade dos meus namoros - tenho sim que aprender com eles. Ensinar. Crescer com eles. Tenho sim que dar liberdade ao amor - e a liberdade passa por abraçar o fim, mesmo que se sofra com ele, como se abraçou um início. Somos Pessoas - não somos relógios que eventualmente podem estagnar no tempo

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