quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Poliamor vs Contracto de Fidelização




Quando assumo o compromisso de uma relação sei que existem coisas a serem decididas. Combinadas.  Quando assumo o compromisso de uma relação também sei que existem coisas a serem comunicadas. Informadas. No poliamor essas decisões são a pensar e comunicar muitas vezes com mais que uma pessoa. Tudo bem, até aqui faz sentido.

Quando assumo o compromisso de uma relação monogâmica ou poliamorosa não estou a assinar um daqueles contractos de fidelização da MEO ou da ZON. Não tenho que ficar.  Não passo a ser aquilo durante determinado tempo. Existem compromissos mas não esse tipo de compromisso.



Ter uma família, vários amores e amores de amores não significa criar uma seita. Sermos bullies. Vivermos de nós para nós. Só fazermos planos em conjunto. Defender um amor como se fosse acabar o mundo mesmo que ele não tenha razão. Ficar num contracto de fidelização e vender que a MEO é melhor que a ZON mesmo quando um filme demora 36 horas a sacar. Sei lá. Não uso nenhuma.

Não espero preencher questionários nem permitir que um amor meu queira de outro amor meu garantias. Informações exageradas. Calendarizar a nossa relação e decidir quando me fará sentido ser genuinamente feliz. Controlar momentos não é ter cuidado – é ordenar, manipular vontades genuínas e criar obstáculos.

Tem que existir fidelidade nas minhas relações. Não pode existir chantagem emocional, pressão psicológica e comportamentos controladores transformados em provas de amor e segurança. Temos que informar e comunicar – não temos que pedir autorização. “Mas existem várias dinâmicas” sim. Só por favor não considerem feminismo algumas das dinâmicas que se praticam em poliamor. Feminismo não é desvalorizar doenças mentais. Também não é ao contrário do que vejo por aí abraçar a amiga abusiva porque todes merecemos apoio e segundas oportunidades. Não vejo ninguém a apoiar o homem que bate. “Entre marido e mulher não se mete a colher” já sabemos que é crime público então e se for: entre vários amores ditar datas e criar obstáculos não são comportamentos controladores - onde ficamos?

Esta minha recente luta não terminou, não posso conceber ter uma voz masculina a falar mais alto. Eu não sou ninguém, não tenho poder académico, o meu vocabulário não é muito extenso e na rua tenho que me calar muitas vezes para não ser mais um corpo encontrado mas isso não significa que me esqueça ou me acomode. Sou a neta das bruxas que a sociedade esqueceu de queimar e fogo neste corpo só aquele que aquece o peito e estimula a voz.