sábado, 1 de agosto de 2015

Um Agosto cheio.

Tenho 20 anos. É o primeiro dia de Agosto e esta parece-me uma data bonita de assinalar. Estou a dar inicio a um projeto (projeto? é só um forma bonita de escrever sobre o meu amar) que já tem sido imaginado desde que as diferentes possibilidades me vestem. É o primeiro dia de Agosto e isso pressupõe a um cheiro a Verão premeditado. A vida leva-nos o doce a férias que lhe estava associado. A vida leva-nos muitas coisas. Traz outras. Nem sempre mais bonitas mas claramente mais assertivas e ponderadas. Tenho 20 anos e durante 18 desses 20 anos vendiam-me relações monogâmicas como quem vende a felicidade. Como quem vende o melhor futuro. A melhor escolha. A única opção. Não foi só a monogamia que me foi vendida - a heternormatividade e o sexismo são pão nosso de cada dia. 

Existirem Pessoas é existir também a oportunidade de cruzar caminhos, partilhar ideias e absorver o que nos aquece o peito. Num momento feliz de troca de caminhos, cruzei-me com o poliamor. Inicialmente e por ser óbvia a mononormatividade intrínseca, respeitei mas não era para mim. Nunca é para nós - dá trabalho. Foge às regras. Fugir às regras sempre foi o meu prato principal mas parecia-me arriscado ter que remexer novamente toda a minha vida por algo que até ali, eu ainda nem sequer acreditava.  

A verdade é que quando nos é dada uma palavra e essa palavra tem uma definição, são nos abertos horizontes. Questionar o que somos; o que queremos; o que faz ou não sentido deve ser um trabalho constante. Passado menos de um ano lá estava eu: poliamorosa. Feliz. Esta forma de pintar o amor é minha. Não é egoísmo e muito menos é anular quem o vive comigo. Quem o transforma comigo. É meu por ser minha esta experiência. Esta decisão. Só é meu por ser eu que o vivo em pleno dentro de mim - individualmente. Uma escolha que me pertence. O meu poliamor só existe enquanto eu decidir que exista - e o torne possível. É óbvio que a presença de pessoas que amo o tornam mais firme. Real. Concretizável. São essas que também me motivam a escrever sobre a possibilidade de amar vezes infinito. No entanto continua a ser minha a necessidade de me afirmar enquanto pessoa poliamorosa. Mulher poliamorosa. A minha verdade de multiplicar o amor é uma reconstrução que me acompanha. Uma luta constante para contornar uma sociedade mononormativa. De mãos dadas com um amor-próprio que me permite acordar e perceber que estou a fazer o que me faz feliz ou me faz questionar sempre que a batalha me parece ter frentes que não consigo acompanhar. Um amor por outres que só aumenta mas que também pode magoar. Que requer uma comunicação constante. Uma negociação. Regras. Sou uma poly-novata mas vou conseguindo ainda assim criar histórias que antes eram impensáveis. Que antes eram limitadas. Que são lidas, muitas vezes, como impossíveis. Ao meu lado, atualmente, tenho duas pessoas maravilhosas. Na minha relação com cada uma dessas pessoas separadamente - questionamos a monogamia dada ao desbarato e transformamos o nosso amor numa construção maravilhosa.  

O dia 1 de Agosto parece-me uma data bonita para assinalar o meu percurso poly e também para tentar começar a escrever sobre as várias questões e experiências que vivo, numa luta constante contra uma sociedade que não permite amar em pleno.

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